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Clinicamente editado e revisado por THE BALANCE Esquadrão
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A compulsão alimentar e a ansiedade são dois transtornos mentais que geralmente aparecem juntos, podendo causar um grande impacto no bem-estar de uma pessoa. Enquanto a pessoa que sofre de compulsão alimentar come grandes quantidades de comida em pouco tempo, muitas vezes se sentindo fora de controle e angustiada, a ansiedade abrange diferentes distúrbios marcados por preocupação excessiva, medos e sintomas físicos como coração acelerado e suor.

Compulsão Alimentar e Ansiedade

Em algum momento de suas vidas, entre 1,9% e 2,8% dos adultos nos países desenvolvidos sofrem do transtorno mais comum relacionado à compulsão alimentar. É caracterizado por ciclos repetidos de consumo excessivo e rápido de grandes quantidades de comida, chegando a um ponto desconfortável, juntamente com a sensação de vergonha, culpa e perda do controle. Cerca de 10% a 18% dos adultos nos países desenvolvidos são portadores de transtornos de ansiedade, como transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico e transtorno de ansiedade social (1, 2).

É significativa a ocorrência simultânea do transtorno da compulsão alimentar e ansiedade. Estudos indicam que existe uma correlação entre transtornos de ansiedade e compulsão alimentar, sendo que cerca de 30% a 65% dos indivíduos com este último também apresentam o primeiro. Esta condição adicional dificulta a situação médica (3).

A compulsão alimentar e a ansiedade têm uma relação que pode ser compreendida tanto através de análises psicológicas quanto biológicas. Do ponto de vista psicológico, a compulsão alimentar pode funcionar como uma estratégia para lidar com a ansiedade. Comer, especialmente alimentos ricos em açúcar e gordura que trazem conforto, pode temporariamente aliviar os sintomas de ansiedade ao ativar o sistema de recompensa no cérebro. No entanto, depois desse alívio momentâneo, é comum sentir culpa e vergonha, o que contribui para um ciclo de compulsão alimentar e aumento da ansiedade (4).

Do ponto de vista biológico, os transtornos da compulsão alimentar e os transtornos de ansiedade possuem vias neurobiológicas semelhantes. Tanto um como outro estão relacionadas à desregulação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, que controla a resposta do corpo ao estresse. Os desequilíbrios dos neurotransmissores relacionados à serotonina, dopamina e norepinefrina também são relevantes. Dessa forma, tanto a ansiedade quanto os comportamentos de compulsão alimentar podem estar relacionados aos baixos níveis de serotonina, um neurotransmissor responsável pela regulação do humor (5).

Existem muitos elementos que influenciam no surgimento da compulsão alimentar e do transtorno de ansiedade. Estudos apontam que indivíduos com histórico familiar de qualquer uma das condições possuem um risco maior, o que destaca a importância da genética nesse contexto (6). 

Os fatores ambientais, como o contato com situações traumáticas, níveis elevados de estresse e influência das pressões sociais, desempenham um papel substancial. O trauma durante a infância, especialmente, é amplamente comprovado como um fator de risco tanto para o transtorno de compulsão alimentar quanto para os distúrbios de ansiedade (7).

Os indivíduos podem ter predisposição a essas condições devido aos traços de personalidade e padrões cognitivos. As pessoas com ansiedade frequentemente enfrentam o perfeccionismo, a baixa autoestima e uma imagem corporal negativa. As distorções cognitivas, tais como a polarização do pensamento e exageração dos problemas, intensificam a ansiedade e podem resultar em momentos de comer compulsivamente como uma forma ineficiente de lidar com as dificuldades (8).

Ansiedade causa compulsão alimentar?

A convivência entre a compulsão alimentar e a ansiedade pode acarretar consequências significativas para o bem-estar físico e mental de uma pessoa. Sob a perspectiva física, o consumo compulsivo de alimentos pode ocasionar obesidade (9), diabetes tipo 2 (10), doenças cardiovasculares (11) e diversos outros transtornos alimentares. A carga emocional de conviver com a compulsão alimentar e a ansiedade pode ocasionar grande sofrimento psicológico, diminuição da qualidade de vida e aumento nas chances de desenvolver depressão e outros distúrbios do humor (12).

Esses problemas de saúde são agravados pelo estresse crônico que está ligado à ansiedade. Um exemplo é quando uma pessoa está sob estresse por um longo tempo, isso pode resultar em níveis altos de cortisol no corpo. Isso, por sua vez, contribui para o aumento de peso e desencadeia distúrbios alimentares como a compulsão (13).

Adicionalmente, as emoções negativas relacionadas à ansiedade têm o potencial de afetar a motivação de uma pessoa para adotar hábitos saudáveis, estabelecendo assim um ciclo prejudicial que impacta negativamente na saúde.

A intervenção precoce e a prevenção da compulsão alimentar em adultos são estratégias cruciais que podem afetar significativamente os resultados de saúde em longo prazo. Um dos principais métodos de intervenção precoce é por meio de campanhas de conscientização e educação pública. Essas iniciativas têm o objetivo de informar o público em geral sobre os sinais e sintomas do transtorno da compulsão alimentar e incentivar as pessoas a buscarem ajuda precocemente. Ao desmistificar a condição e reduzir o estigma, essas campanhas podem criar um ambiente de apoio em que as pessoas se sintam à vontade para discutir seus comportamentos alimentares e buscar orientação profissional.

Os profissionais de saúde desempenham um papel fundamental na detecção e intervenção precoces. Exames regulares de transtornos alimentares durante as consultas médicas de rotina podem ajudar a identificar indivíduos em risco.

Grupos de apoio comunitário e iniciativas lideradas por colegas também oferecem recursos valiosos para a intervenção precoce. Esses grupos proporcionam um senso de comunidade e experiência compartilhada, o que pode ser incrivelmente benéfico para aqueles que lutam contra a compulsão alimentar. Eles oferecem uma plataforma para que os indivíduos compartilhem suas lutas e sucessos, aprendam com os outros e recebam apoio emocional.

Além disso, intervenções no estilo de vida com foco no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e mecanismos de enfrentamento podem evitar o surgimento de comportamentos de compulsão alimentar. Incentivar práticas de atenção plena, como a alimentação consciente, pode ajudar os indivíduos a se tornarem mais sintonizados com os sinais de fome e saciedade, reduzindo a probabilidade de comer em excesso (14).

Diversos campos de pesquisa antecipam melhoria dos resultados para indivíduos que apresentam essas condições simultaneamente.

As pesquisas genéticas e neurobiológicas podem trazer conhecimentos valiosos sobre os processos que causam compulsão alimentar e ansiedade. A descoberta dos genes específicos e circuitos cerebrais relacionados a essas condições pode resultar no desenvolvimento de terapias direcionadas e abordagens de tratamento personalizadas.

A combinação de diferentes modalidades terapêuticas, farmacoterapia e intervenções baseadas na atenção plena, pode aumentar a eficácia do tratamento e melhorar os resultados.

Para tratar efetivamente pessoas com compulsão alimentar e ansiedade, é necessário adotar uma abordagem completa e integrada que lide simultaneamente com as duas condições. Diversas opções de tratamento têm apresentado resultados positivos no combate a essa condição médica.

Terapia cognitivo-comportamental é altamente eficaz tanto para o tratamento da compulsão alimentar quanto para a ansiedade. O foco dela é identificar e modificar padrões de pensamento e comportamentos mal adaptados. Na compulsão alimentar, a terapia cognitivo-comportamental auxilia as pessoas na identificação dos disparadores dos episódios de compulsão, no desenvolvimento de estratégias mais saudáveis para lidar com isso e no abordar das questões subjacentes como insatisfação com a aparência física (15). 

Terapia comportamental dialética, originalmente criada para tratar o transtorno de personalidade limítrofe, foi ajustada para ser utilizada no tratamento do transtorno de compulsão alimentar e também da ansiedade. Ao combinar técnicas cognitivo-comportamentais com práticas de atenção plena, ela auxilia as pessoas a controlar suas emoções, lidar melhor com o sofrimento e aprimorar suas habilidades interpessoais. A concentração da Terapia comportamental dialética na prática da atenção plena pode trazer benefícios significativos na redução da ansiedade e no controle de comportamentos alimentares impulsivos (16).

A utilização de medicamentos juntamente com a psicoterapia pode ser benéfica. Além de serem recomendados no tratamento transtornos de ansiedade, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina também mostraram eficácia na redução dos episódios de compulsão alimentar. Medicamentos adicionais, como a lisdexamfetamina, mostraram-se eficazes no tratamento do transtorno da compulsão alimentar e podem contribuir para diminuir a ocorrência de episódios de compulsão (17).

Colaborar com um nutricionista certificado pode auxiliar as pessoas a estabelecer uma relação balanceada e saudável com os alimentos. O aconselhamento alimentar oferece orientações sobre como controlar o tamanho das porções, praticar uma alimentação consciente e planejar as refeições, aspectos essenciais para gerenciar o transtorno de compulsão alimentar. Além disso, ao tratar deficiências nutricionais e estabelecer um plano alimentar adequado, é possível diminuir a ansiedade associada às decisões sobre o que comer e à preocupação com o peso corporal (18).

Grupos de apoio e apoio de colegas: Tanto pessoalmente quanto online, participar de grupos de apoio pode oferecer às pessoas um sentimento de comunidade e empatia. Compartilhar vivências com pessoas que estão passando por desafios semelhantes pode diminuir a sensação de solidão e apresentar métodos concretos para lidar tanto com a compulsão alimentar quanto com a ansiedade (19).

O MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction) e outras práticas de mindfulness podem auxiliar as pessoas a aumentar sua consciência em relação aos seus pensamentos, emoções e sensações corporais como uma forma de diminuir o estresse. Ao se tornarem mais conscientes, é possível que ocorra uma melhora na regulação emocional e a redução de comportamentos impulsivos. A prática regular de meditação, exercícios respiratórios profundos e ioga pode diminuir consideravelmente os níveis de estresse e ansiedade, resultando em menor probabilidade de episódios de compulsão alimentar (20).

compulsão alimentar

A clínica de luxo The Balance, em Mallorca, Espanha, está bem equipada para tratar o transtorno da compulsão alimentar, que muitas vezes coexiste com a ansiedade, devido à sua abordagem abrangente e multidisciplinar. Com profissionais especializados em Terapia Cognitivo-Comportamental e a Terapia Comportamental Dialética, ambas altamente eficazes no tratamento da compulsão alimentar e da ansiedade, na clínica The Balance são abordados os gatilhos psicológicos subjacentes e ensinadas estratégias de enfrentamento. 

A abordagem integrada da clínica The Balance aborda os aspectos psicológicos e biológicos do transtorno da compulsão alimentar, oferecendo um ambiente de tratamento holístico e eficaz.

  1. Bandelow B, Michaelis S. Epidemiology of anxiety disorders in the 21st century. Dialogues Clin Neurosci. 2015 Sep;17(3):327-35. doi: 10.31887/DCNS.2015.17.3/bbandelow. PMID: 26487813; PMCID: PMC4610617.
  2. Keski-Rahkonen A. Epidemiology of binge eating disorder: prevalence, course, comorbidity, and risk factors. Curr Opin Psychiatry. 2021 Nov 1;34(6):525-531. doi: 10.1097/YCO.0000000000000750. PMID: 34494972.
  3. Pipe A, Patterson B, Van Ameringen M. Binge eating disorder hidden behind a wall of anxiety disorders. J Psychiatry Neurosci. 2021 Mar 5;46(2):E208-E209. doi: 10.1503/jpn.200235. PMID: 33667054; PMCID: PMC8061740.
  4. Craven MP, Fekete EM. Weight-related shame and guilt, intuitive eating, and binge eating in female college students. Eat Behav. 2019 Apr;33:44-48. doi: 10.1016/j.eatbeh.2019.03.002. Epub 2019 Mar 13. PMID: 30903861.
  5. Steiger H. Eating disorders and the serotonin connection: state, trait and developmental effects. J Psychiatry Neurosci. 2004 Jan;29(1):20-9. PMID: 14719047; PMCID: PMC305267.
  6. Thornton LM, Mazzeo SE, Bulik CM. The heritability of eating disorders: methods and current findings. Curr Top Behav Neurosci. 2011;6:141-56. doi: 10.1007/7854_2010_91. PMID: 21243474; PMCID: PMC3599773.
  7. Mazzeo SE, Bulik CM. Environmental and genetic risk factors for eating disorders: what the clinician needs to know. Child Adolesc Psychiatr Clin N Am. 2009 Jan;18(1):67-82. doi: 10.1016/j.chc.2008.07.003. PMID: 19014858; PMCID: PMC2719561.
  8. Selby EA, Ward AC, Joiner TE Jr. Dysregulated eating behaviors in borderline personality disorder: are rejection sensitivity and emotion dysregulation linking mechanisms? Int J Eat Disord. 2010 Nov 1;43(7):667-70. doi: 10.1002/eat.20761. PMID: 19806606; PMCID: PMC4243037.
  9. McCuen-Wurst C, Ruggieri M, Allison KC. Disordered eating and obesity: associations between binge-eating disorder, night-eating syndrome, and weight-related comorbidities. Ann N Y Acad Sci. 2018 Jan;1411(1):96-105. doi: 10.1111/nyas.13467. Epub 2017 Oct 16. PMID: 29044551; PMCID: PMC5788730.
  10. Dziewa M, Bańka B, Herbet M, Piątkowska-Chmiel I. Eating Disorders and Diabetes: Facing the Dual Challenge. Nutrients. 2023 Sep 12;15(18):3955. doi: 10.3390/nu15183955. PMID: 37764739; PMCID: PMC10538145.
  11. Friars D, Walsh O, McNicholas F. Assessment and management of cardiovascular complications in eating disorders. J Eat Disord. 2023 Jan 30;11(1):13. doi: 10.1186/s40337-022-00724-5. PMID: 36717950; PMCID: PMC9886215.
  12. Araujo DM, Santos GF, Nardi AE. Binge eating disorder and depression: a systematic review. World J Biol Psychiatry. 2010 Mar;11(2 Pt 2):199-207. doi: 10.3109/15622970802563171. PMID: 20218783.
  13. Rosenberg N, Bloch M, Ben Avi I, Rouach V, Schreiber S, Stern N, Greenman Y. Cortisol response and desire to binge following psychological stress: comparison between obese subjects with and without binge eating disorder. Psychiatry Res. 2013 Jul 30;208(2):156-61. doi: 10.1016/j.psychres.2012.09.050. Epub 2012 Oct 22. PMID: 23083917.
  14. Mills R, Hyam L, Schmidt U. A Narrative Review of Early Intervention for Eating Disorders: Barriers and Facilitators. Adolesc Health Med Ther. 2023 Dec 5;14:217-235. doi: 10.2147/AHMT.S415698. PMID: 38074446; PMCID: PMC10710219.
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  16. Blood L, Adams G, Turner H, Waller G. Group dialectical behavioral therapy for binge-eating disorder: Outcomes from a community case series. Int J Eat Disord. 2020 Nov;53(11):1863-1867. doi: 10.1002/eat.23377. Epub 2020 Sep 2. PMID: 32881025.
  17. Reas DL, Grilo CM. Pharmacological treatment of binge eating disorder: update review and synthesis. Expert Opin Pharmacother. 2015;16(10):1463-78. doi: 10.1517/14656566.2015.1053465. Epub 2015 Jun 4. PMID: 26044518; PMCID: PMC4491373.
  18. Heruc G, Hart S, Stiles G, Fleming K, Casey A, Sutherland F, Jeffrey S, Roberton M, Hurst K. ANZAED practice and training standards for dietitians providing eating disorder treatment. J Eat Disord. 2020 Dec 15;8(1):77. doi: 10.1186/s40337-020-00334-z. PMID: 33317617; PMCID: PMC7737344.
  19. Byrom NC, Batchelor R, Warner H, Stevenson A. Seeking support for an eating disorder: a qualitative analysis of the university student experience-accessibility of support for students. J Eat Disord. 2022 Mar 7;10(1):33. doi: 10.1186/s40337-022-00562-5. PMID: 35256006; PMCID: PMC8903729.
  20. Katterman SN, Kleinman BM, Hood MM, Nackers LM, Corsica JA. Mindfulness meditation as an intervention for binge eating, emotional eating, and weight loss: a systematic review. Eat Behav. 2014 Apr;15(2):197-204. doi: 10.1016/j.eatbeh.2014.01.005. Epub 2014 Feb 1. PMID: 24854804.